A Image Comics não para de apresentar novas histórias em quadrinhos com muita qualidade e potencial absurdo. Entre os acertos Black Science, publicado no Brasil pela Devir, é mais uma das obras incríveis que, com um estilo pulp, mergulha no fantástico em uma história que fará o leitor virar as páginas compulsivamente.
Os quadrinhos são escritos por Rick Remender que ficou conhecido por títulos solo do Capitão América da Marvel e também pelo já considerado clássico Fear Agent. Em Black Science o autor usa a ficção científica como base para criar a narrativa, com elementos fantásticos que remetem a clássicos do pulp como Buck Rogers ou Flash Gordon. Remender consegue criar uma história muito simples, com vários clichês do scifi, mas com ideias que mergulham em um mar de possibilidades infinitas.
Na história acompanhamos Grant McKay, um cientista anarquista que inventa uma máquina que permite a viagem interdimensional, a qual ele nomeia de Pilar. No entanto o aparelho fora sabotado e acaba levando ele, sua equipe, seus dois filhos e o patrocinador dos estudos, para várias dimensões diferentes, sem qualquer controle e funcionando aleatoriamente. O Pilar é explicado com a metáfora de uma “cebola”, usando suas camadas para demonstrar a teoria de que qualquer coisa que você possa imaginar existe em alguma camada do eterno. McKay e sua equipe buscam uma forma de consertar o Pilar e voltar para casa.
Com essa construção o autor tem a possibilidade de explorar absolutamente qualquer coisa, desde coisas monótonas até mundos extraordinariamente fantásticos. Em cada capítulo, conhecemos uma nova dimensão em que, graças a belíssima arte de Matteo Scalera e as cores de Dean White, esses mundos ganham vida e detalhes que em momento algum são explicados na narrativa de Remender. Explicar tornaria a experiência cansativa, imagine se em todo novo local em que os protagonistas se encontram, houvesse a necessidade de inúmeras explicações, ainda mais quando se tratam de mundos fantásticos, com anfíbios cavalgando moreias terrestres – uma versão do planeta Terra em que os índios nativos americanos venceram o Destino Manifesto e agora travam guerras na Europa -, ou planetas dominados por uma espécie sinistra de macacos que lembram uma mistura de babuínos com o Pé Grande.
A arte de Scalera e White são incríveis, os traços meticulosamente detalhados em uma explosão de cores, que tornam as páginas um pouco mais “reais” e são fundamentais para a contextualização de mundos para não tirar tempo de Remender de fazer seu grande triunfo na história: trazer questões filosóficas sobre relacionamentos, família, carreira profissional, escolhas do passado entre outros temas cotidianos da “vida real” sendo explorados em momentos de pura tensão, em dimensões diferentes da realidade. Isso traz um certo ar de “humanidade” à narrativa, que torna a experiência da leitura muito melhor.
Black Science é, em seu primeiro volume, dividido em seis capítulos e mostra seu potencial. Com toda mitologia que constrói cresce a cada nova página, sem nem mesmo precisar explicá-las diretamente, e traz milhões de possibilidades para novos volumes neste perfeito exemplar de ficção científica pulp, como os clássicos dos anos 60 que marcaram época na cultura pop. Ainda há muita coisa para contar, mas a curiosidade e expectativas já são gigantes.