A ficção científica, seja na literatura, cinemas ou televisão, deve muito a obra de Pierre Boulle pelas inovações que trouxe para a época, com o livro O Planeta dos Macacos.
Em um futuro não muito distante, três astronautas pousam em um planeta muito semelhante a terra, de atmosfera respirável, florestas gigantes e água em abundância. Mas o que eles acreditam ser um paraíso, não é bem o que parece. Os desbravadores do espaço descobrem que, neste mundo, os humanos não passam de bestas selvagens a serviço de uma espécie dominante: os macacos.
Durante a lua de mel um casal de cosmonautas viaja a deriva do espaço, abordo de um veleiro movido a painéis solares, até encontrarem um estranho objeto vagando pela imensidão do universo. Uma garrafa, com papéis que narram a história de Ulysse Mérou vivendo aventuras em um planeta chamado Soror, dominado por macacos racionais.
A história é narrada por Ulysse, que já no começo afirma que o final não será agradável. Mesmo quase sem esperança, emite a carta de socorro para o universo. Ulysse conta como desembarcou em um planeta no sistema solar de Betelgeuse. Na missão, Ulysse era apenas um jornalista, que não tinha familiares na Terra, convidado pelo cientista Antelle, um antipático e antissocial que desprezava a raça humana.
Quando chegam na Betelgeuse, se deparam com um planeta muito semelhante a Terra, que chamam de Soror, onde existe vida, espécies de animais e árvores, além de uma civilização formada. O bizarro, para os terráqueos, é que os humanos aqui são bestas selvagens, sem raciocínio lógico, que vivem como os macacos da Terra. Por outro lado, a vida inteligente e evolutiva do planeta eram os macacos.
Os viajantes descobrem uma sociedade inteligente e bastante organizada, assim como os humanos na terra. Porém, para seu azar, os macacos tratam os humanos, assim como tratamos os macacos aqui, usando-os para caça, amostras em zoológicos e circo, ou como cobaias para experimentos científicos, visto a semelhanças com os humanos. O desafio do protagonista é provar para os símios ser inteligente e racional, que existem outros humanos tão inteligentes quanto ele.
A obra de Pierre Boulle é simples e possui uma escrita fácil e direta, apesar do uso de termos científicos e complicados. É um livro pequeno para uma história tão complexa. Aborda assuntos reflexivos, que continuam sendo levados em consideração atualmente, como a empatia pelos animais. Apresenta claramente que, em certos pontos, são poucas as coisas que nos diferenciam dos animais e faz uma excelente crítica a sociedade, principalmente nas áreas da ciências quando mostra que precisam de estudos inovadores, indicando que existem outras maneiras de avançarmos na ciência sem a necessidade de mal tratos e ignorância.
Assim como muitas obras da época, a história tem personagens femininas mesquinhas e fracas. Até as mais relevantes na trama, acabam se tornando submissas por responder a homens (machos) e obedecerem as opiniões de suas autoridades que, no geral, são do sexo masculino. Inclusive é, de uma forma bem tosca, que cria-se um romance entre Ulysse e Zira – uma macaca cientista que o ajuda – fazendo demonstrar mais ainda o machismo que existia na época. Este romance poderia ser facilmente dispensado da história.
A nova edição da Aleph, com mais de 40 páginas de conteúdo extras, tem um texto bem bacana sobre as diferenças entre a ficção científica americana e a francesa, além de uma interessante entrevista do autor, em que comenta o que sente pelos filmes da saga, que vieram ao cinema pouco depois do lançamento do livro, um pouco de suas inspirações e de sua vida pessoal.
Planeta dos Macacos é inovador para sua época e inspirou inúmeras histórias após sua publicação. Um detalhe: o final do livro é muito melhor que o final do filme de 1968.